ΑΩ - A mulher FLAGRADA em ADULTÉRIO:
O relato de Jesus com a mulher flagrada em adultério é uma das mais célebres história de Jesus na Bíblia. Embora tão popular, o relato se baseia em apenas uma passagem do Novo Testamento, está em João 7:53-8:12, e nem mesmo ali parece fazer parte do contexto original.
Jesus, a mulher acusada de adultério e os acusadores |
O quadro da história (ou seria: estória?) é familiar. Jesus está ensinando no Templo, e um grupo de escribas e fariseus, aproxima-se dele trazendo consigo uma mulher “que fora pega em flagrante adultério”. Eles a trazem à presença de Jesus porque querem pô-lo à prova. A Torah (chamada de Lei de Moisés e/ou Lei de Deus) prescreve que uma mulher dessas seja apedrejada até a morte (é o que dizem a Jesus); mas eles querem saber o que ele tem a dizer sobre o caso. Devem apedrejá-la ou mostrar misericórdia para com a mulher? Naturalmente, trata-se de uma armadilha. Se Jesus lhes disser para libertar a mulher, será acusado de violar a Lei de Deus; se lhes disser para apedrejá-la, será acusado de negligência para com seus próprios ensinamentos de amor, misericórdia e perdão.
Jesus cala-se, não responde imediatamente. Ele simplesmente abaixa-se para escrever na areia (dependendo da versão: terra ou chão). Quando eles dão continuidade a seus questionamento, Jesus lhes diz: “Aquele que não tem pecado seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”. E retorna a escrever na areia, enquanto aqueles que tinham trazido a mulher começam a sair, um por um, até que ninguém restou, além da mulher. Levantando os olhos, Jesus diz: “Mulher, onde estão todos? Ninguém te condenou?” Ao que ela responde: “Ninguém, senhor”. Jesus responde: “Também eu não te condeno. Vai e não peques mais”.
É uma “história” brilhante, cheia de sentimentos e com uma guinada engenhosa na qual Jesus usa sua inteligência para se livrar da armadilha. Obviamente para um leitor atento a história levanta várias perguntas. Se essa mulher foi pega em flagrante adultério, onde está o homem com quem ela adulterou? Ambos (e não somente a mulher) devem ser apedrejados, de acordo com a Lei de Moisés (Levítico 20:10). E mais, o que Jesus escreveu na areia exatamente? De acordo com alguns intérpretes, ele escrevia os pecados dos acusadores, que, ao verem seus próprios pecados ali escritos, ficaram completamente constrangidos. Mas, mesmo que Jesus tenha ensinado uma mensagem de amor, ele realmente achava que a Lei de Deus dada por Moisés perdeu o valor e que não precisava mais ser obedecida? Pensava ele que os pecados não deviam mais ser punidos?
Apesar da história ser brilhante e cativante, ela levanta um outro enorme problema. Ao que tudo indica, ela não é parte original do Evangelho de João. Aliás, não é parte original de Evangelho algum. Trata-se de um acréscimo posterior. Como se sabe disso? A verdade é que, pesquisadores do mundo todo que estudam a tradição manuscrita não têm dúvidas a este respeito! Como chegaram a esta conclusão? Analisando, obviamente, alguns fatos: a história não se encontra nos mais antigos e melhores manuscritos do Evangelho de João; seu estilo de escrita é, em tudo, diferente do que vemos no Evangelho de João (inclusive os relatos que vêm antes e depois); inclui-se um enorme número de frases e termos que são, por outro lado, estranhos ao Evangelho de João. Concluindo assim com toda certeza que: essa passagem bíblia não faz parte originalmente do Evangelho de João. E isso tem deixado os leitores num dilema: se essa história não fazia parte originalmente do Evangelho de João, pode ser considerada parte da Bíblia? Um texto “inspirado” por Deus? Com toda certeza, nem todos responderão a essas perguntas da mesma forma, mas para a maioria dos críticos textuais a resposta é: NÃO!