Tradutor

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Lilith e Samael:

Lilith é provavelmente o demônio feminino mais conhecido nos círculos do oculto, e também provavelmente um dos mais temidos seres espirituais.

Lilith, supostamente, a primeira esposa de Adão

Ela foi a primeira mulher criada pela mão de Deus, mesmo antes de Eva. Lilith foi por isso a PRIMEIRA ESPOSA de Adão. Contudo, ao contrário de Eva, que foi criada a partir da costela de Adão, Lilith foi GERADA do mesmo barro que Adão, e por isso era um ser em pé de igualdade com ele.
Ela era livre, irresistivelmente bela e cheia de luxúria, sendo que se recusava a sujeitar sexualmente a Adão, ou sequer se submeter à sua suposta superioridade, (Lilith recusava-se a ficar debaixo de Adão durante o coito, sendo que Adão não aceitava essa posição de inferioridade do macho), o que muito desagradava ao primeiro homem.

Farta do machismo dominador de Adão, Lilith abandonou o Paraíso e fugiu para o Mar Vermelho, onde viveu em liberdade. Ali, ela conheceu e manteve relações com diversos demônios. Quando os três anjos encontraram Lilith, ela maliciosamente respondeu que já não poderia regressar ao paraíso para viver na companhia do marido, pois já tinha desgraçado a sua honra de esposa nas suas prostituições com os demônios. A resposta era inegavelmente verdadeira, e não havia como negar que as regras de Deus haviam sido violadas. Lilith usou as regras do Criador em seu proveito com inteligência, conseguindo assim manter a sua liberdade.

Certas mitologias dizem também que é verdadeiro o motivo que levou Lilith a abandonar o paraíso e ter-se apaixonado por Samaelo anjo da morte. Samael deu-lhe a conhecer o prazer que Adão não era capaz de oferecer. Lilith, enquanto um ser feminino de grande luxúria, apaixonou-se irremediavelmente pelo anjo. Em troca das relações sexuais, o anjo deu a ela não só o Nome Secreto de Deus, como também toda a sabedoria mística e mágica. Adão ficou só, e Deus achou que isso não era bom.

Samael, o anjo da morte. Seu nome significa: Veneno de Deus

  Assim, segundo algumas tradições mitológicas hebraicas, foi então criada Eva.
Como conta o Livro de Gênesis, a história não ficou por aqui. Também Eva foi seduzida por Lúcifer, e algumas correntes teológicas defendem que dessa relação nasceu Caim. Lilith foi, por isso, a primeira bruxa da humanidade, e é a padroeira de todas as bruxas. Ao contrário de Eva, que morreu como um ser humano mortal, Lilith alcançou a imortalidade tendo casado com Samael, ao passo que se tornou amante de Lúcifer.

Em certos círculos ocultistas, Lilith é uma das entidades espirituais mais invocadas para presidir a rituais e celebrações de magia negra, da mesma forma que entidades como pomba-gira são regularmente conjuradas em trabalhos espirituais de magia vermelha. Segundo a etimologia judaica vulgar, o nome Lilith deriva de «Layil», que significa, «Noite».

O mesmo nome, segundo as tradições assírio-babilônicas, significa «demônio feminino», ou «espírito dos ventos»Na antiguidade, Lilith foi igualmente associada às deusas lunares, e consequentemente, tanto ao mundo dos espíritos ou dos mortos, como ao mais temível poder da magia negra. Também, de acordo com certas teses ocultistas, para além de padroeira das bruxas, ela é igualmente tida como a responsável pela reencarnação das bruxas, concedendo às que são do seu agrado à vida eterna, intercedendo junto de Lúcifer para que a imortalidade seja concedida às suas seguidoras prediletas.  

segunda-feira, 9 de junho de 2014


O Filho do Homem:

Para muitos cristãos, o termo “Filho do Homem” estabelece-se como o correspondente natural para o termo “Filho de Deus”. É uma afirmação da humanidade de Cristo, assim como o termo “Filho de Deus” é uma afirmação complementar de sua divindade. Entretanto, isso não é tão simples assim. O termo “Filho do Homem” (em hebraico — Ben Adam, ou, no aramaico — Bar Nashá) é usado em três principais contextos no Antigo Testamento:

1 - Como uma espécie de vocativo utilizado pelo profeta Ezequiel;
2 - Como referência à figura escatológica futura (Daniel 7: 13–14), cuja vinda aponta para o fim da história e para a vinda do julgamento divino;
3 - Como ênfase sobre o contraste entre a humanidade e a fragilidade da natureza humana e a elevada posição ou a estabilidade de Deus e dos anjos (Números 23:19; Salmos 8:4).

O terceiro significado relaciona-se à naturalmente humanidade de Jesus e pode estar por trás de pelo menos algumas referências a esse aspecto presentes nos Evangelhos Sinópticos. É, entretanto, o segundo emprego do termo que atrai a atenção de muitos estudiosos.
Rudolf Bultmann defende que Daniel 7:13-14 aponta para a expectativa da vinda do “Filho do Homem” ao final da história e argumenta que Jesus compartilhou dessa expectativa. As referências a Jesus, o “Filho do Homem”, vir nas nuvens com grande poder e glória (Marcos 13:26) devem ser entendidas, de acordo com Bultmann, como uma referência a outra figura que não Jesus. Bultmann sugeriu que a igreja primitiva fez posteriormente a fusão de Jesus e do Filho do Homem, entendendo-os como um e o mesmo. A igreja primitiva, assim, deu origem à aplicação desse termo a Jesus.

Este ponto de vista, entretanto, não tem aceitação universal. Outros estudiosos defendem que o termo “Filho do Homem” carrega uma série de associações, incluindo sofrimento, justificação e julgamento, tornando-o assim um termo natural e adequado para ser aplicado a Jesus. George Caird foi um dos estudiosos do Novo Testamento que desenvolveu esse tipo de perspectiva, defendendo que Jesus usou o termo “para indicar sua união essencial com a humanidade e, acima de tudo, com o fraco e humilde, como também para indicar sua função especial como representante predestinado do novo Israel e portador do julgamento e do Reino de Deus”.

Fonte: “Teologia — Sistemática, Histórica e Filosófica” — Alister E. McGrath — Páginas: 409 e 410.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

A Bíblia Hebraica e o Talmud:

A essência do judaísmo está contida em seus textos mais importantes: os cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica, conhecidos coletivamente como Torá. Mas o judaísmo sempre foi centrado na palavra de Deus e na erudição, e não surpreende que tenha produzido um grande corpo de escritos: não só os outros livros da Bíblia como também uma vasta obra de comentário e interpretação: o Talmud.


A Torah:

A palavra hebraica Torah é em geral traduzida como "Lei", embora o significado real seja "Instrução". Contendo a história dos primeiros judeus e os Mandamentos de Deus para o Seu povo, ela é o texto mais sagrado do judaísmo.
Toda sinagoga tem um exemplar da Torá, escrito à mão em hebraico num rolo que é mantido num armário chamado Arca, o ponto focal da sinagoga. Cada rolo é escrito com grande cuidado, pois o texto nunca muda e deve ser transcrito com exatidão. O texto é sagrado demais para ser tocado com a mão. A pessoa que lê a Torá de uma sinagoga usa um ponteiro especial, "yad", com uma mão de metal na ponta, para seguir as palavras. Isso assegura que o texto não fique danificado. Caso isso ocorra, o rolo (Sêfer) é declarado inútil e enterrado num cemitério judaico em um vaso de barro.

Yad, para a leitura da Torah
                                        
Os demais livros da Bíblia Hebraica consistem nos Profetas (Nevi’im) e nos Escritos (Ketuvim). Os Nevi’im têm especial importância, pois são as palavras dos profetas que reconduziram os judeus à sua religião quando estavam extraviados e os ajudaram quando estavam no exílio. Os Ketuvim incluem livros de história, lamentação e os salmos que, importantes, são usados nos serviços da sinagoga.


*  O Talmud:

Desde os primeiros tempos, os rabinos discutiram e interpretaram as palavras da Torá. De início, as interpretações eram transmitidas oralmente, mas em 170 E.C., o corpo de comentários já crescera tanto que os judeus começaram a registrar o que os rabinos diziam. Esse registro tornou-se conhecido como a Mishná. Também ela gerou interpretações, e estas tornaram-se conhecidas como Gemara.
A Mishná e a Gemara juntas compõem um livro de comentários chamado: “Talmud”.

Com cerca de 2,5 milhões de palavras, abrange temas diversos como: folclore e preces, rituais e remédios. Cerca de um terço desse material é “halakhah” (leis religiosas judaicas derivados da Torá escrita e oral); o resto são as histórias, lendas e máximas conhecidas como a “aggadah” (um termo aramaico que significa – conto, saber). Com sua imensa extensão e enorme diversidade, o Talmud aborda todos os aspectos da vida humana.


A Estrutura do Judaísmo:

Os primeiros rabinos eram homens cultos, que atuavam como líderes espirituais e conselheiros sem nada receber por isso. Mais tarde, tornaram-se líderes religiosos remunerados, pregando, ensinando e fazendo julgamentos judiciais. Lugares com muitas comunidades judaicas escolhem um rabino principal e um corpo de representantes, como o Conselho de Representantes dos Judeus Britânicos.
Ramos do judaísmo têm corpos próprios, como a União Mundial para o Judaísmo Progressista.
O rabino é hoje o líder de uma comunidade judaica. Dirige a cerimônia, “prega”, educa e aconselha.

Em resumo:

O judaísmo tem centenas de mandamentos, mas os judeus não veem sua fé como legalista. Como os ensinamentos da Torá e do Talmud são muito práticos e cobrem todos os aspectos da vida, os judeus estão conscientes de sua religião e de sua ligação com Deus em tudo que fazem.

Fonte: "Religiões" - Philip Wilkinson - Páginas: 68, 69 e 75.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Bíblia Sagrada

O Antigo e Novo Testamentos:

    As expressões cristãs “Antigo Testamento” e “Novo Testamento” são de natureza intensamente teológica. Essas expressões baseiam-se na crença de que os livros do Antigo Testamento pertencem a um período do relacionamento entre Deus e o mundo que foi, de certa forma, superado ou relativizado com a vinda de Cristo, no Novo Testamento. Grosso modo, a mesma coletânea de textos é designada por escritores judeus como: Torah (Instrução), Nevi'im (Profetas) e Ketuvim (Escritos), e pelos escritores cristãos como: Antigo Testamento. Portanto, não há nenhum motivo particular pelo qual alguém, que não seja cristão, deva se sentir compelido a chamar essa coleção de livros como Antigo Testamento, a não ser por uma questão de costume.
    A estrutura da teologia cristã que conduz a essa diferenciação entre os Antigo e Novo Testamentos é a das “alianças” ou “dispensações”. A crença cristã básica de que a vinda de Cristo dá início a algo novo se exprime em uma atitude característica em relação ao Antigo Testamento, que poderia ser basicamente sintetizada dessa forma: os princípios e as ideias religiosas presentes no Antigo Testamento (como, por exemplo, a noção da soberania de um Deus que age na história humana) são aceitos como algo apropriado; às práticas religiosas (como as leis alimentares e as práticas de sacrifícios) não são admitidas.

    Portanto, como os Antigo e Novo Testamentos estão relacionados entre si, segundo a ótica da teologia cristã? Uma das alternativas foi tratar o Antigo Testamento como os documentos de uma religião que tinha qualquer ligação com o cristianismo. Essa abordagem é particularmente associada a Marcião, um escritor do século II que foi excomungado no ano 144. De acordo com ele, o cristianismo era uma religião de amor, na qual não havia nenhum espaço para a Lei. O Antigo Testamento está ligado a um Deus diferente do Deus do Novo Testamento; o Deus do Antigo Testamento, que havia criado somente o Mundo, era obcecado pela ideia da Lei. O Deus do Novo Testamento, porém, havia salvo o Mundo e preocupava-se com o amor. De acordo com Marcião, o propósito de Cristo foi a destituição do Deus do Antigo Testamento (que guardava uma incrível semelhança com o “demiurgo” dos gnósticos, uma figura semidivina vista como princípio organizador do universo), introduzindo-nos na adoração do verdadeiro Deus da graça.

    A posição da maioria na teologia cristã enfatizou, de um lado, a continuidade entre os dois testamentos, destacando, de outro lado, que existe entre ambos. Calvino proporciona-nos uma discussão característica e lúcida sobre esse relacionamento, da qual trataremos.
    Calvino defende a existência de uma fundamental semelhança e continuidade entre os Antigo e Novo Testamentos, com base em três aspectos. Primeiro, ele enfatiza a imutabilidade da vontade divina. Não é plausível que Deus aja de uma determinada forma no Antigo Testamento e, logo a seguir, aja de maneira totalmente distinta no Novo Testamento. Deve existir uma continuidade fundamental de ação e intenção entre os dois testamentos. Segundo, ambos celebram e proclamam a graça de Deus manifestada em Jesus Cristo. Pode ser que o Antigo Testamento consiga oferecer um testemunho de Jesus somente “à distância e obscuramente”, no entanto, seu testemunho da vinda de Cristo é real. Em terceiro lugar, ambos os testamentos possuem “os mesmos sinais e sacramentos”, dando testemunho da mesma graça por parte de Deus.
    Assim, Calvino defende que ambos os testamentos são basicamente idênticos. Eles se diferenciam em administratio, mas não em substantia. Em relação à substância e conteúdo, não há ruptura radical entre ambos. O Antigo Testamento acaba ocupando uma posição cronológica diferente do Novo Testamento no plano da salvação; entretanto, seu conteúdo (adequadamente entendido) é exatamente o mesmo.

Conclusão:

    Calvino sintetiza esse princípio geral com a afirmação de que “naquilo que se refere à lei em geral, a única diferença, em relação ao evangelho, está na clareza de apresentação”. Cristo é anunciado e a graça do Espírito Santo é ofertada em ambos os testamentos — embora de uma forma mais clara e mais completa no Novo Testamento.


Fonte: “Teologia — Sistemática, Histórica e Filosófica” — Alister E. McGrath — Páginas: 202, 203, 204 e 205.

segunda-feira, 2 de junho de 2014


Quem foram os Merovíngios?

Os Merovíngios dominaram boa parte das atuais França e Alemanha entre os séculos V e VII. O início dessa época coincide não somente com as histórias do Graal, mas com a era do rei Artur, muito evidenciado em vários desses contos. Nunca se questionou se os merovíngios foram os imperadores justos dos francos. Eles não eram “criados” como reis.
Os filhos que recebiam os títulos tornavam-se reis automaticamente quando completavam 12 anos. Seu papel não era governar — isso era deixado para os “Administradores do Palácio”. Esperava-se que eles simplesmente existissem como representantes do papel, guardando poder e situação similares aos de um monarca constitucional do século XXI.
A eles também eram permitidos os prazeres da poligamia e, às vezes, tiravam grande vantagem deste privilégio.
A origem do nome da família merovíngia vem de seu progenitor, Meroveu (também chamado de “Merovech” ou “Merovée”). O nome lembra a palavra francesa para “mãe” e as palavras francesa e latina para “mar”.

   Um dos símbolos fixos dos merovíngios era a abelha. Centenas de abelhas-de-ouro puro foram encontradas na tumba do rei Childerico. O costume perdurou durante os séculos. Quando Napoleão foi coroado imperador, em 1804, ele se certificou de que abelhas douradas fossem presas a seus mantos de coroação. Ele era fascinado pelos merovíngios e compilou sua linhagem para descobrir se a dinastia havia sobrevivido após ter sido destituída. Isto formou a base das genealogias encontradas nos documentos do Priorado de Sião.

   Clóvis I é, talvez, o mais famoso dos monarcas merovíngios, visto que ele foi o responsável pela introdução do Cristianismo Romano na França. Sua esposa católica havia dado a ele mais que um pouco de coragem para seguir nesta direção, mas é provável que houvesse outra razão para que fosse convencido da ideia.
    O Cristianismo, nessa época, assumiu muitas formas diferentes. A Igreja Romana estava em constante conflito com a Igreja Celta. Em 496 d.C., Clóvis teve vários encontros secretos com Saint Rémy, o que levou a um acordo entre ele e a Igreja Romana, segundo o qual o monarca agiria como o braço forte da Igreja. Em troca, ele deveria governar sobre o que havia sido o sacro Império Romano de Constantino, que os visigodos e os vândalos haviam destruído.
 
   Clóvis cumpriu seu papel de forma entusiástica. Ele aumentou o tamanho de seu império, englobando muito do que hoje é a França e a Alemanha. Ele tinha um desejo particular de derrotar os visigodos e o conseguiu, na Batalha de Vouille. Os visigodos foram afastados cada vez mais, até que finalmente estabelecera-se na área de Razes, em Rhedae — a atual vila de Rennes-le-Château.
Depois da morte de Clóvis, seu reino foi dividido, conforme a tradição da época, entre seus quatro filhos. Isso levou a um rompimento da coesão que existia anteriormente e deu aos Administradores do Palácio a oportunidade perfeita para conseguir mais poder. No entanto, eles tinham de enfrentar Dagoberto II.

   Dagoberto nasceu em 651, e quando Clóvis, seu pai, morreu em 656, todos os esforços voltaram-se para evitar que ele herdasse a Austrásia, o nordeste do reino de Clóvis.

[…]

Em resumo:

   Os Merovíngios seriam os monarcas que provieram, pela linhagem de Davi, dos descendentes de Jesus Cristo, que chegaram à França com Maria Madalena. Foi uma dinastia que reinou na Gália e na atual Alemanha desde aproximadamente 500 até 750 d.C., e suas terras foram sendo gradualmente estendidas de acordo com o crescimento de seu sucesso e prosperidade. Depois do controverso assassinato do rei Dagoberto II, ficou a impressão de que a linhagem havia desaparecido, sendo substituída por seus antigos criados (“Administradores do Palácio”) que formavam a linhagem carolíngia. Esses monarcas, incluindo Carlos Magno, casaram-se com princesas merovíngias, assim mantendo viva a linhagem de Davi.   


Fonte: “Revelando o Código Da Vinci” — Martin Lunn — Páginas: 60, 61, 62 - 169 e 170.

domingo, 1 de junho de 2014


O que é Teologia: Um Estudo Acadêmico e Sistemático da Fé:

1. Introdução:

A palavra teologia deriva do grego antigo “θεός” (theós, “Deus”) e “λόγος” (lógos, “discurso”, “estudo” ou “razão”). Assim, teologia significa, literalmente, o “estudo sobre Deus” ou “discurso racional sobre o divino”. Embora seja uma disciplina antiga, com raízes no pensamento filosófico e religioso da Grécia clássica, a teologia desenvolveu-se de maneira mais sistemática dentro das tradições religiosas monoteístas, particularmente no cristianismo, no judaísmo e no islamismo. Este texto tem como objetivo apresentar uma análise acadêmica, histórica e conceitual sobre o que é teologia, suas principais áreas, métodos e relevância nas ciências humanas.

2. Definição e Objeto da Teologia:

A teologia é, em termos gerais, a disciplina que busca compreender, interpretar e sistematizar as crenças religiosas, sobretudo as relacionadas a Deus, à revelação, à fé, à salvação e à experiência religiosa. Conforme Paul Tillich (1886–1965), teólogo protestante do século XX, a teologia é “a explicação sistemática do conteúdo da fé à luz da razão humana”.

Seu objeto é, portanto, múltiplo: abrange o estudo de Deus, dos textos sagrados, dos dogmas, das práticas rituais, da moral religiosa, das experiências místicas e da relação do ser humano com o transcendente. A teologia busca compreender não apenas o conteúdo das religiões, mas também a maneira como essas crenças são experienciadas, expressas e transformadas ao longo da história.

3. Teologia e Filosofia: Convergências e Diferenças:

Historicamente, a teologia se desenvolveu em diálogo com a filosofia. Filósofos como Aristóteles e Platão foram fundamentais para o pensamento teológico posterior, especialmente no cristianismo medieval, como se vê em Santo Agostinho (354–430) e, sobretudo, em Tomás de Aquino (1225–1274), que usou a filosofia aristotélica para fundamentar sua teologia.

A diferença fundamental entre teologia e filosofia está no ponto de partida. A filosofia parte da razão e da experiência para questionar e conhecer o mundo e o ser. A teologia, por sua vez, parte da fé e da revelação como fontes de conhecimento. No entanto, muitos teólogos, como Karl Barth, Hans Küng e Paul Ricoeur, argumentam não haver oposição entre fé e razão, mas sim uma complementaridade, na qual a razão pode ajudar a compreender melhor os conteúdos da fé.

4. Ramo e Divisões da Teologia:

A teologia divide-se em vários ramos, conforme seu foco temático ou metodológico. As principais áreas são:

  • Teologia Sistemática: Procura organizar de forma lógica e coerente os principais temas da fé, como Deus, Cristo, Espírito Santo, pecado, salvação, Igreja e escatologia.

  • Teologia Bíblica: Estuda os textos sagrados (como a Bíblia hebraica e o Novo Testamento) em seu contexto histórico, literário e teológico, buscando compreender como se desenvolve a revelação ao longo da história sagrada.

  • Teologia Moral ou Ética Teológica: Analisa as implicações morais da fé religiosa, discutindo temas como justiça, sexualidade, economia, política e bioética à luz dos princípios teológicos.

  • Teologia Pastoral: Refere-se à aplicação prática da teologia na vida da comunidade religiosa, abordando questões de liturgia, aconselhamento, educação e missão.

  • Teologia Histórica: Investiga o desenvolvimento das doutrinas e práticas religiosas ao longo dos séculos, considerando os contextos culturais e políticos que influenciaram a fé.

  • Teologia Comparada: Estuda as similaridades e diferenças entre sistemas teológicos de diversas religiões, promovendo o diálogo inter-religioso.

  • Teologia Contextual ou Libertadora: Busca interpretar a fé a partir de contextos específicos, como a teologia da libertação na América Latina, a teologia negra, a teologia feminista, entre outras.

5. Métodos da Teologia:

A teologia não é um discurso dogmático fechado, mas uma disciplina crítica e interpretativa. Seus métodos variam conforme a tradição e o ramo estudado, mas geralmente incluem:

  • Exegese e Hermenêutica: Interpretação de textos sagrados com base em linguística, história e crítica literária.

  • Análise Sistemática: Organização racional dos conteúdos da fé em um sistema coerente.

  • Diálogo com as Ciências: Inclusão de aportes da psicologia, sociologia, antropologia, história e ciências naturais.

  • Reflexão Filosófica: Uso da lógica e da metafísica para tratar de conceitos como ser, existência, transcendência, liberdade e bem.

6. A Teologia nas Religiões Monoteístas

No cristianismo, a teologia assume um papel central e institucionalizado, sendo estudada em seminários, universidades e comunidades religiosas. No judaísmo, o estudo teológico é fortemente ligado à interpretação da Torá e ao Talmude, com enfoque legal e ético. Já no islamismo, a teologia (kalam) envolve o estudo do Alcorão, dos hadiths e da jurisprudência islâmica, muitas vezes entrelaçada com a filosofia árabe.

7. Críticas à Teologia:

A teologia não está isenta de críticas, especialmente em contextos acadêmicos laicos. Filósofos como Ludwig Feuerbach, Friedrich Nietzsche e Karl Marx criticaram a teologia por alienar o ser humano e projetar seus desejos num ser transcendente. No entanto, pensadores contemporâneos como Jürgen Moltmann e David Tracy destacam que a teologia, ao lidar com os temas últimos da existência, continua a ser uma das formas mais profundas de compreender a condição humana.

8. Relevância Contemporânea da Teologia:

Em um mundo plural e secularizado, muitos se perguntam se a teologia ainda é relevante. No entanto, ela continua a desempenhar um papel importante no diálogo entre fé e razão, religião e ciência, tradição e modernidade. Além disso, a teologia oferece ferramentas críticas para avaliar as práticas religiosas, combater fundamentalismos e promover uma espiritualidade comprometida com os direitos humanos, a justiça social e a ecologia.

9. Conclusão:

A teologia é uma disciplina viva, dinâmica e complexa, que se situa entre a fé e a razão, entre a tradição e a crítica. Longe de ser somente um discurso dogmático, ela constitui uma forma profunda de reflexão sobre o sentido da vida, da existência, do sagrado e da comunidade. Seu estudo continua a ser fundamental para compreender não apenas as religiões, mas a própria cultura humana em sua dimensão mais profunda.


Referências Bibliográficas:

  • AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2001.

  • BARTH, Karl. Dogmática Eclesiástica. São Leopoldo: Sinodal, 2000.

  • MOLTMANN, Jürgen. Teologia da Esperança. São Paulo: Vozes, 1972.

  • TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. São Paulo: Paulinas, 1985.

  • RAHNER, Karl. Curso Fundamental de Fé. São Paulo: Paulus, 2007.

  • KÜNG, Hans. Ser Cristão. São Paulo: Verus, 2009.